A RAZÃO NEURÓTICA

Sim, o Shatner do título é o actor cromo de Star Trek, se bem que na perspectiva de “Where’s Captain Kirk?”, canção da banda punk Spizz Energi. William Shatner é referido no livro, mas não está nele. Na verdade, nem o autor sabe onde está. Do dito Shatner só interessa para o enredo que, num episódio desse clássico televisivo de ficção científica, era ele o fagotista de um grupo de música de câmara.

Yep: logo à partida, as referências musicais deste novo caudal de frases de Rui Eduardo Paes (carinhosamente mais conhecido por REP) – porque é de um livro sobre música que se trata – estão no rock and roll e na clássica, ainda que para falar de jazz, de improvisação e dessa música que se diz ser “experimental”. Também se passa pelo hip-hop queer e pelo nintendocore, por exemplo, mas afinal nenhuma forma de arte é uma ilha e tudo está, de alguma maneira, interligado. Até quando o que encontramos são as des-associações reais ou quimicamente induzidas que constituem a realidade. Os contos desta, nas páginas que aqui estão dentro, são os do sexo, da loucura e da morte.

A música não comunica nada, segundo Gilles Deleuze? Mentira: comunica-nos o desejo, esse grande motor do nosso quotidiano, a esquizofrenia que nos define como humanos e a atribulada relação que temos com a Grande Ceifeira. Para ler em ritmo de corrida, porque foi escrito em ritmo de corrida.

Category: Tag:

Description

Um livro inconveniente, ofensivo, inaceitável, herético, e, por isso mesmo, obrigatório, no modo como analisa e desafia alguns dogmas. Uma celebração da liberdade.

Fala-se de loucura, das estruturas, da infância, dos paradigmas filosóficos, da medicina, enfermagem e fisioterapia, das medicinas não convencionais, da psicanálise e das terapias em geral, da cura gay, do sonho, da culpa, da tolerância, do feminismo e do machismo, do amor, e ainda de Deus, ideologias, peidos, prostitutas, gurus, enfim… fala-se de tudo o que se possa imaginar e tudo se funde para satirizar o mundo do pensamento.

Cruzam-se ideias, jogos psicológicos, falácias e desafios cognitivos. A liberdade de interpretação é total e também isso se celebra: o poder pensar-se o impensável. Uma obra arrojada pelo que convoca. E também politicamente incorrecta, chegando mesmo a poder ofender e escandalizar.

Há os livros de auto-ajuda. E há os livros sérios da reflexão filosófica. Este livro mostra a língua a tudo o que tem sido feito. Tudo o que se pensava ser fácil e solucionável deixará de o ser. No fim, ter-se-á a corda na garganta, e, por cima, um grande sorriso.